Vai p’raí alguma comoção, sobretudo no meio académico, a
propósito da nomeação de Carlos Moedas para Comissário Europeu da Investigação,
Ciência e Inovação. Alegam alguns investigadores e professores que o facto de
não lhe serem reconhecidas credenciais na área científica (o que quer que isso
signifique) lhe retira legitimidade para o exercício destas funções.
Esta posição, para além de revelar alguma arrogância
intelectual e despeito ab initio
(exemplificativos do regime endogâmico e paroquial que se vive há muitos anos
na academia portuguesa), pode virar-se contra estes mesmos “representantes do
meio académico”. Virando o tabuleiro ao contrário, poderemos então dizer que um
académico, que nunca tenha feito
outra coisa na vida que não investigar
ou dar aulas, não serve para desempenhar qualquer outro tipo de funções. Adriano
Moreira nunca teria saído da universidade, Sampaio da Nóvoa nunca se poderá candidatar
a Presidente da República, e por aí adiante.
Em suma, e seguindo esta linha de raciocínio, nunca um académico poderia sair da academia para
exercer outras funções, nem um não
académico poderia entrar na dita para partilhar o seu conhecimento
eventualmente mais empírico. Teríamos portanto a academia como um universo autónomo
e estanque a que só uns quantos eleitos (ou cooptados?) poderiam aceder.
Quer-me parecer que este raciocínio viola desde logo um dos
princípios basilares que devem nortear a postura da verdadeira Academia (assim
mesmo, com maiúscula): a democraticidade do Conhecimento e, corolariamente, a
diversidade das suas fontes.
Por outro lado, achar que para o desempenho de um cargo
como este é imprescindível a experiência na área da investigação científica
parece-me um verdadeiro erro de palmatória e revelador de alguma ignorância
acerca do mundo real. Para um cargo de gestão de topo, como este, é antes de
tudo fundamental a detenção de vastas competências de gestão e experiência
política, coisa que no caso vertente até nem me parece que falte.
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