sexta-feira, 31 de maio de 2019

A crise de representação

Em períodos excepcionais, a política ultrapassa a esfera da gestão dos assuntos públicos e alarga as próprias fronteiras para o espaço de intervenção partidária na própria democracia, enquanto sistema.

O tacticismo e o convencional têm transformado o paradigma da política ao longo dos tempos, pelos piores motivos, e isso revela-se com o crescente afastamento dos eleitores. 

Assistimos, em Portugal e na Europa, a uma degradação da democracia representativa e a sociedade portuguesa reage com uma omissão cívica preocupante.

Nestes novos tempos, a todo o momento, a palavra “Crise” surge nas discussões políticas quando ouvimos falar em crise económica, crise social, crise diplomática, crise de valores, crise de liderança, crise de regime e agora a mais preocupante de todas, a crise de representação.

A política e as crises tornaram-se realidades inseparáveis ao ponto de poder dizer-se que uma pressupõe a outra. Sem crises, num mundo perfeito, a política seria quase dispensável. 

Mas quando falamos de crise de representação abre-se um novo tempo negro, em que não temos noção das consequências futuras.

Hoje vivemos claramente uma crise de representação e o maior exemplo disso foram os cerca de 70% de abstenção nas últimas eleições Europeias. Só 3 em cada 10 portugueses foram votar e não parece que apenas 30% de uma população possa representar os demais 70% alheados.

No momento atual em que, sem que muitos o percebam, vivemos a crise da própria política, temos inevitavelmente de adotar uma estratégia capaz de reanimar, no curto prazo, uma democracia que parece estar, ela sim, condenada á irrelevância.

Têm de se restruturar os Partidos Políticos na sua estrutura, funcionamento, organização e nas formas como comunicam com o eleitorado.

Têm de ser combatidos os vícios do sistema parlamentar definindo critérios objetivos para a ação política, para a participação política e até para a eleição e nomeação para cargos públicos.

Têm de se derrubar as barreiras do sistema político atual onde predomina a desresponsabilização dos seus protagonistas e ausência de fiscalização dos eleitos pelos eleitores.

Têm de ser enfrentados os interesses mais ou menos instalados na administração publica, nos órgãos de poder, nos grupos de pressão e nos grupos de interesses particulares (sindicatos, Associações, Ordens Profissionais, etc).

Mas temos também de aproveitar o momento para refletir, com os protagonistas da opinião publicada e com a comunicação social em geral, sobre a sua responsabilidade neste estado de coisas. Não pode a Comunicação Social - o 4º Poder - assobiar e olhar para o lado como se, também ela, não tivesse responsabilidades no estado da arte.

Este é o momento de todos os protagonistas em Portugal aproveitarem esta “Crise” e ajudar a mudar os paradigmas de comunicação, representação e de formas de participação política para o futuro.

Mecanismos de participação política tradicionais como por exemplo a Petição, a Representação, a Reclamação e a Queixa, pelos poucos resultados que produzem estão completamente obsoletos e são ineficazes nos novos tempos.

Este é momento de colocar a debate as ideias mais disruptivas e ousadas (dentro de critérios de responsabilidade) para poder mudar o futuro da democracia participativa e assim aproximar os cidadãos da política.

Como disse Winston Churchill: “Nunca devemos desperdiçar uma boa crise.” E Churchill sabia muito bem como as enfrentar e potenciar. Temos de o fazer e não embarcar na demagogia fácil de quem não quer mudar nada.

É urgente encontrar consensos alargados que promovam uma reforma eleitoral e política com os olhos postos nos interesses das pessoas. Mas mais ainda é preciso encontrar consensos alargados para as reformas estruturais de um País em que a democracia participativa é elemento vital.

Hoje o vínculo entre os cidadãos e os políticos tem vindo a dar lugar a uma crescente indiferença, desconfiança e afastamento e é exatamente este vínculo de confiança que temos de ver reforçado, sob pena de termos repetidamente 30% de opiniões a comandarem 100% de portugueses.


Este artigo foi Publicado no Jornal Público a 30-05-2019. Segue o link abaixo:

https://www.publico.pt/2019/05/30/politica/opiniao/crise-representacao-1874786

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Chip!



De acordo com o PAN eu pertenço ao agregado familiar do meu yorkshire terrier. 

Eventualmente terei que usar chip, não sei se o seguro cobre a conta do veterinário!


quinta-feira, 23 de maio de 2019

A humilhação do Serviço Nacional de Saúde



O Ricardo Leite resumiu em vídeo a situação da Ala Pediátrica do Hospital de São João no Porto, onde crianças estão a receber o tratamento oncológico em barracões.

Deviam mostrar este vídeo sempre que se falar do Serviço Nacional de Saúde.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

O silêncio é um aliado importante em campanha eleitoral

Com um candidato fraco e dado a momentos caricatos, aparentemente, o PS  está a conseguir contrariar a tendência que o PSD parecia impor no início da campanha para as europeias.

Em abril os números das sondagens JN/TSF/Pitagórica previam um empate técnico entre PS e PSD. No entanto, apesar de todas as gaffes, e de se apresentarem com uma campanha à imagem do candidato, os números mais recentes começam a dar um sinal de recuperação de Pedro Marques.

Apesar de estarem a assumir um discurso tradicional de direita, a entrada de António Costa na campanha e a diminuição da presença de Pedro Marques começaram a fazer efeito. 

Depois do esforço de dispersão do eleitorado de direita, com o surgimento de partidos Liberais, como o Aliança e o  Iniciativa Liberal, cuja página de Facebook já foi uma página de apoio a António Costa, a campanha do PS parece estar obcecada com o o eleitor que votou em Pedro Passos Coelho, e apresenta uma linha claramente virada para atributos que o António Costa não conseguiu associar na campanha de 2017. 

O PS tem feito um esforço para trabalhar atributos que normalmente não lhe estão associados, como a responsabilidade, as contas certas e capacidade de execução.  

A responsabilidade: Sinceramente, não sei qual a ideia mais difícil de passar ao eleitor, se a ideia de que o Partido de José Socrates pode ser responsável, ou se a ideia de que Pedro Marques consegue dar mais que indicações de trânsito a António Costa. 


As contas certas: Acho difícil destronar Pedro Passos Coelho nas contas certas.

A ocupação do espaço do PSD não se fica por aqui, a ideia de que o PS representa o partido do trabalho também está a ser testada na campanha de Pedro Marques.

E se isto já não era estranho o suficiente, o PS foi ainda mais longe, foi buscar o slogan à campanha do Fernando Nogueira de 1995.



Mas isto de pouco importa para o resultado eleitoral do PS, o relevante é que o Pedro Marques fale o menos possível e que o António Costa dê a cara.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

O spin do Bispo

Quem estuda propaganda sabe que se há instituição que percebe de comunicação é a Igreja.

No dia 20 de abril o Bispo do Porto, D. Manuel Linda, vem a terreiro assumir em entrevista à TSF que a sua diocese será a primeira a recusar criar uma comissão para lidar com eventuais casos de abuso sexual de menores. Nesta entrevista, chega mesmo a dizer que criar uma comissão para lidar com casos de Pedofilia na Igreja é tão util como criar uma comissão que estude a queda de um meteorito na cidade do Porto. Aparentemente, para este Bispo, a pedofilia na Igreja é uma questão de astronomia, tão rara como a queda de um meteorito.

Feita a borrada, começa a funcionar a máquina de comunicação, no dia seguinte, dia 21 de abril, o mesmo Bispo, D. Manuel Linda, atira para os média um novo tema - O encerramento dos Supermercados ao domingo. Como não havia tempo para entrevista, as declarações foram feitas na Sé da Diocese durante a homilia da Páscoa. 

Não fosse para abafar o primeiro tema, o spin até se poderia perceber à luz de quem não tem família, nem compras para fazer ao fim de semana. Mas pronto, aparentemente é mais importante o que fazemos ao domingo do que a queda de um meteorito.

Hoje foi com espanto que vi o PCP defender o spin do Bispo.