Em tempos de alguma agitação política, que antecede a discussão do Orçamento de Estado, as mentes mais inquietas e impreparadas precipitam-se. Convém portanto descer à terra.
Acabou a Silly Season e com isso
reaparecem os problemas que só o mês de Agosto (e algumas agências de
comunicação) consegue esconder.
Na saúde afinal ainda temos
711.000 portugueses sem médico de família (segundo dados de 2017) e milhares em
filas de espera para consultas e cirurgias.
Na educação inicia-se o ano
letivo com falta de profissionais nas escolas e temos os professores descontentes
por não lhes verem reconhecida a contagem de tempo de serviço.
Na defesa, o roubo de Tancos
continua por resolver e nem um valente puxão de orelhas de Marcelo Rebelo de
Sousa ao Ministro parece vir a resolver esta vergonhosa e grave situação como
disse Rui Rio.
Na justiça, para além da novela
da nova PGR, mantem-se a ausência de coragem para reformas sérias e reverte-se
– por pressão política – qualquer medida que possa baixar a popularidade do governo
ou de António Costa.
Na administração interna
assistimos à degradação dos serviços de segurança e à degradação das condições
de trabalho dos profissionais da PSP e da GNR a cada dia.
Nas finanças, onde nos vendem o
“el Dorado”, regressamos da utopia cada vez que a UTAO comunica a real situação
do País e nos diz que a fatura com a dívida cresce 3,8% quando o governo previa
1,4%.
E até os comentários domingueiros
de Marques Mendes, a defender com vigor a governação socialista - lembrando o
saudoso Vasco Granja quando falava de desenhos animados checos – regressaram
sem disfarces do autor, tamanho é o entusiasmo.
O País está anestesiado. A CGTP,
a UGT e os sindicatos em geral estão amordaçados. Os Professores, os Policias,
os Médicos, os Enfermeiros, os Funcionários Públicos em geral, embora
descontentes, parecem estar sob o efeito placebo.
Esta falta de adesão à realidade
só pode ser combatida com uma ação construtiva. Compete, portanto, aos partidos
da oposição construírem uma alternativa a este estado de coisas e isso só será
possível com uma ação disruptiva que contrarie o que tem sido imposto pelo Status
Quo.
Falamos de um Status Quo que se
move nos corredores do poder, faz já muitos anos, e por consequência disso não
aceita que alguém lhes mude as regras, lhe reduza o poder, ainda por cima se
esse alguém é um político incontrolável e classificado, por muitos, como sério.
A receita para combater este
cancro que espalha metástases por todo o lado é uma quimioterapia cheia de ação
construtiva, onde o politicamente correto não tem lugar e onde só cabe a defesa
dos verdadeiros interesses nacionais.
Não podemos continuar a fingir
que não vemos a realidade. Este é o momento de ação, como disse Álvaro Cunhal,
“Tomemos nas nossas mãos os destinos das nossas vidas.”
Mas devemos fazê-lo por via de
uma ação construtiva, firme e séria. Assim a diferença será evidente e
ganharemos a disponibilidade daqueles que hoje estão afastados para, em
conjunto, participarem na construção do futuro.
E para os que, pensando no que
está mal se vão acomodando, termino citando Francisco Sá Carneiro que conscientemente
disse, “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob
que pretexto for.”.