sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Tolerância à Portuguesa

Os organizadores da Web Summit decidiram (des)convidar a Presidente da Frente Nacional Francesa, Marine Le Pen, e isso revelou a (in)tolerância de alguns politiqueiros e comentadores.


Embora não perceba o propósito de terem Le Pen como convidada numa Convenção onde a tecnologia e a comunicação associadas à Web são o propósito, verifiquei que a onda de choque nas redes sociais e nos média foi equivalente a um 7.5 na escala de Richter.

Os representantes da esquerda - a extrema e a tradicional - levantaram a voz e indignados apelaram aos mais básicos princípios do Totalitarismo. Silenciar, calar, banir, excluir, impedir e atacar.

Infelizmente assistimos a este exercício de demagogia e desonestidade intelectual por parte daqueles que, por ausência seletiva de memória, tentam branquear as visitas, em 1998 e 2000, do Ditador Cubano, Fidel Castro, recebido com honras de estado por António Guterres.

Falamos dos mesmos que esquecem a aprovação, pela esquerda parlamentar, de um voto de pesar pela morte de Fidel em 2016, onde referia que era “Uma referência incontornável que consagrou a sua vida aos ideais do progresso social e da paz”, pasme-se.

Será aceitável termos injeções de intolerância dos mesmos que, em silêncio e com vénias, viram José Sócrates receber em 2008 o seu “Bom amigo” Hugo Chavez, Presidente da Venezuela e um dos mais duros ditadores que perduraram no século XXI?

Mas ainda temos o paradigma da falta de bom senso que é omitirem a visão de Sócrates aos abracinhos a Khadafi, que foi mais um dos Ditadores que ainda resistiu no século XXI e que os moralistas desta esquerda (in)tolerante consideravam um parceiro fundamental para Portugal.

Fazem ruído mediático para rejeitar a participação de uma representante da extrema direita francesa num evento privado. Mas, em contrapartida, veneram alguns dos maiores ditadores da história considerando isso um sinal de elevação e maturidade intelectual. Que mau exemplo para a democracia.

Os que fazem este ruído nunca devem ter lido o Tratado sobre a tolerância, obra que François Marie Arouet, filósofo francês mais conhecido por Voltaire, publicou em 1763. Se tivermos como base a intolerância o que nos pode esperar não é a convivência pacífica entre indivíduos que pensam de forma diferente, mas sim a divergência permanente.

Não se vencem os adversários com intolerância, calando-os, banindo-os ou excluindo-os. Só se pode vencê-los, ouvindo-os e enfrentando-os em debate para assim desmascarar as suas contradições, expor as suas fragilidades, denunciar o seu populismo e arrasar os seus valores desvirtuados.

Não nutro nenhuma simpatia pelas ideias que defende Marine Le Pen. Mas nutro ainda menos simpatia pelos “donos” da moralidade, esses intolerantes que inundam o nosso panorama político e vagueiam pela nossa comunicação social, tentando fazer e influenciar a opinião.

O antídoto para combater estes demagogos é precisamente a tolerância com o recurso a outro princípio básico da democracia…permitir que usem da liberdade de expressão.

Como dizia Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito a dizê-las.”


Artigo Publicado no Jornal Público de 18 de Agosto de 2018:



terça-feira, 14 de agosto de 2018

Parabéns Steve Bannon

A vinda da Le Pen a Portugal, paga pelos contribuintes portugueses, é dos momentos mais caricatos promovidos pela geringonça.

Se é certo que o Steve Bannon é um estratega eficaz, ter sido a geringonça a cair na esparrela é hilariante. 

Depois do Robles ter desmascarado a esquerda façonable, o BE ser conivente com o patrocínio à Marine Le Pen, tanto na Câmara Municipal de Lisboa, como no apoio ao governo é de ir às lágrimas.

O mais grave em toda esta situação é que aconteça o que acontecer, a Marine Le Pen, o Bannon e o PNR já conseguiram o que queriam. A única forma de não cumprir os objetivos do Bannon seria ter-se conseguido explicar ao Paddy Cosgrave que não podia utilizar aquele espaço para propaganda xenófoba, pelo menos com financiamento público. Qualquer alternativa é uma vitória para a Le Pen, se não vejamos:

  • Depois da celeuma mediática a Le Pen é retirada novamente da lista de oradores - a publicidade que criou associada à vitimização que consegue, permite que muitos conservadores se deixem enredar na conversa do direito ao contraditório e da liberdade de expressão castrada (esquecendo-se de que não pode haver tolerância para quem defende o ódio e a intolerância). A simpatia pela Le Pen aumenta. 
  • Depois da celeuma a Le Pen vem à websummit - A esquerda excitada corre a manifestar-se e excede-se, como acontece sempre. O que permite a vitimização da Le Pen e leva a que muitos conservadores se deixem enredar na conversa do direito ao contraditório e da liberdade de expressão castrada (esquecendo-se de que não pode haver tolerância para quem defende o ódio e a intolerância). A simpatia pela Le Pen aumenta.

(Imagem retirada daqui)

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A Le Pen foi corrida da websummit

Felizmente alguém teve juízo e tirou a Marine Le Pen da lista de convidados da WebSummit Lisboa.

Seria incompreensível que uma organização como a Websummit, onde se discutem as novas tendências tecnológicas, desse tempo de antena a quem vive presa à mentalidade de um passado que envergonha a Europa.

Apesar de haver quem defenda que esta atitude de censura põe em causa o princípio da Liberdade, não é verdade. Não podemos ser tolerantes com quem é intolerante. 

O Paradoxo da Tolerância, apresentado por Karl Popper em 1945, lança uma luz sobre o porquê.  


(para quem não sabe, ao lado da Le Pen está o Steve Bannon, um dos responsáveis pela eleição de Donald Trump)

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Os “Robles” e o Capital Político


Para que os decisores possam mobilizar e atrair, é essencial que tenham uma saudável e consistente reserva de capital político. 


Este capital relaciona-se com uma condição que os políticos precisam de ter para agir bem e com a capacidade de influenciar as decisões políticas, no sentido certo.

Um eleito, na sua acção legitima, nem sempre tem uma tarefa simples. Muitas vezes enfrentam problemas complexos e precisam tomar decisões difíceis, com consequências desagradáveis ​​para os cidadãos.  

É para que possam tomar as decisões necessárias, e para que possam sobreviver politicamente, que os nossos representantes precisam de capital político.

Este capital pode ser considerado uma unidade de medida que permite avaliar a autoridade dos que se movem na esfera do poder e mede-se essencialmente por três fatores: as habilidades, as relações com o meio envolvente e a reputação.

O primeiro fator - habilidades - refere-se, por um lado, a qualidades como a competência técnica e por outro lado, a uma visão e discurso convincente, capaz de inspirar o público. Este primeiro fator refere-se às habilidades cognitivas, físicas e de comunicação.

O segundo fator - relação com o meio envolvente – assenta na noção de que autoridade e capital político não existem isoladamente, mas surgem na sequência do relacionamento entre o individuo e o meio onde age.  

Neste caso, o capital político refere-se ao fator das lealdades que os decisores públicos mobilizam nas relações com os seus seguidores, mas também com a comunicação social e com todo o eleitorado.

O terceiro fator - reputação - pode resumir-se a uma questão simples. Até que ponto um político mantém as suas promessas e em que medida consegue corresponder às expectativas generalizadas? A resposta deve assentar em premissas como a boa formação e os valores que garantem a coerência de cumprir o que se promete e fazer o que se diz.

Assim cai o mito que associa o capital político à credibilidade. É uma associação frágil, que nem sempre tem adesão à realidade.  O valor da credibilidade deveria ser a base do capital político uma vez que os dois conceitos não parecem poder existir um sem o outro, mas nem sempre é assim.

Tem de ser cada vez mais evidente que a acção dos protagonistas deste tempo deve assentar na credibilidade e só por essa via devem ter mais (ou menos) crédito.

No entanto, ao contrário do que deveria ser, hoje o cenário português parece cópia fiel do que defendeu Pierre Bourdieu em 2000 no seu livro “Propos sur le Champ Politique”, quando defendia a ideia de que o campo político é composto por sujeitos iniciados que, ligados entre si, têm como fim perpetuar a sua posição no jogo político.

Hoje o capital político assente na credibilidade parece cada vez mais um conceito em extinção, e basta ver os exemplos dos “Robles”, das “Catarinas” e de outros protagonistas, da direita à esquerda dos nossos partidos.

É difícil aceitar que sejam estes os protagonistas que condicionam o futuro dos nossos filhos. Primeiro porque têm pouca credibilidade e segundo porque não são merecedores de qualquer capital político.


Monarquia e República

Em 2014 escrevi um post sobre as diferenças entre os sistemas políticos República e Monarquia. Reescrito gora, com algumas alterações. 

Muitos são os argumentos utilizados a favor da monarquia.

O argumento do desenvolvimento Económico:
Dizem que as economias mais saudáveis e estáveis são monarquias, mas esquecem-se sempre de referir os Estados Unidos, a França, a Suíça, a Áustria e a Alemanha. Também se esquecem de referir que a governação depende dos governos eleitos e dos respetivos parlamentos, pelo menos desde o fim do absolutismo. 

O argumento da independência dos partidos políticos:
Dizem que os Reis não estão sujeitos aos partidos e que por isso são mais isentos. Mas, esquecem-se de dizer que tanto como quem integra os partidos, estão sujeitos à sua famílias, à sua própria consciência e ao poder económico, para não falar que os partidos em Espanha têm tanta ou mais influência que em Portugal.
Também se esquecem de referir que sendo o rei um Ser Humano, igual a todos os outros, podendo ser um corrupto, fruto do próprio sistema monárquico, pode não estar sujeito à Lei, como todos os outros cidadãos.

O argumento da preparação do herdeiro:
Dizem que o herdeiro é preparado desde miúdo para o cargo, e que por isso está mais bem preparado para liderar que os demais (incluindo os filhos de quem dá este argumento). No entanto, esquecem-se dos inúmeros exemplos históricos que contrariam esse facto, bem como a fraca educação que a Rainha de Inglaterra teve, à base de história, línguas, literatura e música. E dos exemplos como o dos príncipes de Inglaterra, do Juan Carlos e da atual família real espanhola.
Mais uma vez, também não referem que mesmo em Monarquia, são os eleitos que governam.

O argumento da estabilidade:
Alegam que Espanha só é Espanha por causa do Rei e que a Suécia é mais estável que a Itália e Portugal. Mas esquecem-se sempre de referir a Bélgica que tem sido incapaz de aguentar um governo, e de falar da estabilidade dos Estados Unidos, da Alemanha e da Suíça.
Conforme se tem visto, na Espanha tem havido tudo menos estabilidade, onde a Catalunha tem sido o principal foco de instabilidade com a declaração unilateral de independência da República da Catalunha. Apesar da própria Catalunha estar dividida ao meio, entre separatistas e unionistas, a razão por trás do número de unionistas nada tem a ver com o Filipe de Bourbon, mas sim com factores económicos e o medo de que sozinha a Catalunha fique mais fraca - o mesmo se pode dizer da maioria dos unionistas das outras nações de Espanha.

O argumento da representação do país:
Mas em Espanha o Rei representa mais o País que o Presidente da República? Nem toda a gente se revê no Cavaco, no Eanes, ou no Sampaio, mas a crescente simpatia pela República em Espanha indicia que também lá nem toda a gente se revê no Filipe de Bourbon. E daí? O que é isso de uma figura que una o País? O Ronaldo? O Marcelo une mais Portugal do que Filipe de Bourbon une a Espanha, há quem goste, há quem não goste, mas isso faz parte da vida democrática.

O argumento dos custos de gestão da Presidência e da Casa Real:
Este argumento vem à partida com a falácia provocada pela diferença das funções de um Presidente da República e de um Rei. Apesar de se dizer que são semelhantes, não o são, os reis têm por regra uma intervenção muito menor - logo gastam menos, ou pelo menos deveriam gastar menos. 
A propaganda monárquica tenta passar a ideia que a Presidência da República Portuguesa é mais cara que a casa real britânica, o que é falso. Mesmo os custos da casa Real Espanhola, que alegadamente terá o orçamento mais barato, pecou sempre pela transparência e foi publicado, pela primeira vez, apenas em 2011. Por outro lado, tal como muitas das casas reais europeias, esconde despesas em diversos ministérios, o que torna pouco credíveis os números anunciados. 
Por exemplo, se olharmos para a os custos da coroa Belga, que tem pouco mais habitantes que Portugal, esta custa cerca do dobro do orçamento alocado à presidência da República Portuguesa. 

Conclusão:
Todos estes argumentos valem o que valem. E se pensarmos bem, servem para pouco mais que animar a discussão, porque no final do dia o que os povos precisam é de bons governos, sejam eles liderados por Reis, Presidentes, ou Ministros, independentemente da forma como são escolhidos.

E é este o cerne da questão, a forma como são escolhidos, não a forma como governam, porque isso depende das condições da economia, da personalidade, da equipa, da capacidade de cada um e de milhares de outras variáveis que não controlamos. 

Um mau governante não melhora pelo facto de ser rei, se não o rei dos frangos seria provavelmente o franchising de maior sucesso em portugal. 

Por isso, a escolha do sistema político resume-se à escolha do sistema mais justo e que permita a melhor governação. 

E como não é a monarquia ou a república que faz um bom governo, fica a discussão sobre qual o sistema mais justo e democrático.

E é aqui que a monarquia cai por terra. Não é justo e não é democrático alguém ter direito a um poder do Estado apenas por ter nascido numa determinada família. 

Por isso, há um princípio essencial que inviabiliza a monarquia, o facto de à luz da Lei e do Estado, todos os homens e mulheres serem considerados iguais, em direitos e em deveres. No fim de contas, a Monarquia perde por não ser um sistema nem justo nem democrático.






Esta coisa dos Bombeiros Voluntários andarem a pedir ajuda é no mínimo estranho. Quem é que vai para uma operação destas sem logística organizada?

Durante os incêndios de 2017 houve uma verdadeira avalanche de pedidos de apoio em barras de cereais, água e outros produtos alimentares, para ajudar os Bombeiros que se encontravam a combater os incêndios. Muitos portugueses tomaram a iniciativa e encheram os quartéis desses produtos.

O ano passado, se partirmos do princípio que foi um ano atípico e que as Associações de Bombeiros Voluntários foram apanhadas de surpresa, podemos até considerar isto uma coisa normal. Mas este ano, já me parece no mínimo um atestado de incompetência, não tenho é a certeza para quem.

Eu até vou partir do princípio que este atestado de incompetência não é para a Proteção Civil que hoje pede ajuda, até porque é suposto haver alguém responsável pela alimentação dos operacionais no terreno.