terça-feira, 30 de outubro de 2018

E o medo decidiu

A insegurança, o descrédito no PT e o desespero prevaleceram. A insegurança, com uns pozinhos de reação ao ridículo de um candidato ir à prisão receber instruções de um condenado por corrupção marcou o fim da era Lula.

Aparentemente, o Brasil preferiu o risco de perder Liberdade e de criar um estado securitário a manter uma taxa de homicídio 30 vezes superiores aos números europeus

Quando falamos do Brasil temos de ter a noção que estamos a falar de outro mundo. No Brasil uma pessoa é morta a cada 9 minutos. Em Portugal, quando saímos de casa de manhã para ir trabalhar ligamos a app para ver onde há trânsito, no Brasil ligam a app para saber onde há tiroteio.  Isto terá sido o principal motivo para eleitores que em tempos votaram Lula, ou Aécio, agora terem votado em massa no Bolsonaro. 

Para facilitar um pouco, nesta segunda volta a pergunta que foi feita aos eleitores brasileiros não foi se preferiam viver em liberdade, ou se preferiam viver em ditadura. A pergunta foi se preferiam ser governados por um Vale e Azevedo, num país onde nem em casa estás seguro, ou se preferiam mudar para um ex-militar, correndo o risco de perder uma Liberdade que para a maioria já não existe.

Ao contrário do que a larga maioria dos analistas tem assumido, tenho muitas dúvidas que o problema da corrupção tenha tido um papel preponderante na decisão do voto, tenho dúvidas se não terá sido mais do que um racional para justificar o voto num candidato que se deixa fotografar com uma metralhadora na mão. Até porque o próprio Bolsonaro também é alvo de suspeitas, aliás que os seus adversários exploraram sem qualquer resultado prático. 


(foto retirada daqui)

O Presidente Eleito da República Brasileira é Jair Bolsonaro, foi eleito democraticamente. Qualquer repúdio ao ato em si, ao processo eleitoral, é absurdo por natureza, pelo menos para qualquer instituição democrática, defensora da Liberdade. No entanto, observar o conservadorismo dogmático e o sectarismo chegarem ao poder é preocupante. Uma preocupação que deve ir para além da birra daqueles que têm sido coniventes com os falhanços governativos nas grandes democracias mundiais. 

A questão que deveriamos estar a colocar neste momento é como evitar que o mesmo aconteça na Europa. Repudiar atos democráticos só ajuda a extremar posições, torna-nos parte do problema e não da solução.

Neste momento, depois de uma escolha legítima e democrática resta-nos desejar que o povo Brasileiro consiga unir-se, desejar que as instituições que zelam pela democracia brasileira funcionem, e que o Presidente e o seu Vice-Presidente (Jair Bolsonaro e  Hamilton Mourão) demonstrem que tudo o que se tem sido dito sobre eles não passe de uma narrativa, prevalecendo a Tolerância e a Liberdade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A quarta "Era" da comunicação


Em tempos passados, a forma de comunicação política era direta e fazia-se através de reuniões públicas em salões de igrejas, cinemas, salões de baile e campanhas políticas de porta-a-porta. Nos dias de hoje, estes métodos são cada vez menos comuns e limitados, principalmente a países onde a tecnologia não permite que a mensagem seja enviada diretamente para casa das pessoas.

Estamos perante uma evolução da comunicação e nesse sentido, já em 1999, os autores Blumler e Kavanaugh distinguiam a evolução da comunicação política em três eras distintas. 

A primeira era, ocorreu antes do início da televisão, quando os principais canais de comunicação eram instituições políticas fortes e estáveis, como os partidos políticos tradicionais ligados aos regimes.

A segunda era, foi aquela onde as mensagens passaram a ser transmitidas através dos meios de comunicação de massa, o que fez com que a procura por profissionais de comunicação tenha aumentado uma vez que estando estes profissionais inseridos no meio, poderiam explorar melhor as suas vantagens.

Na terceira era, ainda emergente, a componente essencial distinguida foi a existência dos média e todos os seus canais de comunicação. Nesta era, a profissionalização da comunicação política torna-se cada vez mais evidente e passa a ser um fator essencial de sucesso. Os seus melhores profissionais colocam como prioridade a orientação dos agentes políticos, para que possam comunicar através da multiplicidade de canais, cada um deles com um conjunto de necessidades e formatos específicos.

É hoje claro que estamos na terceira era da comunicação política e esta tornou-se uma atividade voltada para as grandes massas usando os meios de comunicação (jornais, televisões e redes sociais). Esta mudança de paradigma permitiu que os média não só escolham o que transmitir como notícia, mas também escolham a maneira como essa notícia deve chegar aos respetivos grupos que compõem a sociedade.

A comunicação política, hoje, deixou de ser uma atividade direta, pessoal, face a face, para ser conduzida, indiretamente, através dos órgãos de comunicação social e dos vários canais de comunicação. Neste caso só as redes sociais podem fugir deste controlo dos órgãos de comunicação social.

Embora estas mudanças possam ter algumas perversões - e é fatual que têm - não deixam de representar um avanço enorme para a comunicação política, conseguindo desta forma, um meio para chegar o mais longe possível.

Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, a mensagem política chega a cada vez mais eleitores e isso significa que a evolução tecnológica ajudou, e ajuda a influenciar mais pessoas e mais instituições.

Se tivermos em conta a proliferação da internet nas últimas décadas temos de reconhecer que esta representou uma verdadeira revolução para a democracia global. Hoje cada vez mais cidadãos têm acesso à informação política o que, de certa forma, permite dar-lhes as ferramentas e conhecimentos para que as escolhas que possam vir a fazer sejam cada vez mais conscientes e sustentadas.

Além disso cada cidadão com acesso à comunicação passa a ser um meio de difusão da mensagem política, o que permite que esta mesma mensagem atinja todos os cantos do mundo.

Mas nesta era da abundância dos média, a comunicação política tem vindo a ser reformulada por tendências que fogem da origem da ciência política e da comunicação simples.

O aumento das pressões competitivas dos órgãos de comunicação social; o populismo anti-elitista e tão “acarinhado” por alguns jornalistas de uma pertença esquerda; o sebastianismo defendido por jornalistas de uma pertença direita que desvaloriza as opiniões contrárias; o experimentalismo e ambição (desmedida) de alguns profissionais da comunicação política; a avidez selvagem de algumas agências de comunicação; o jornalismo tendencioso (que recorre a falsas fontes); e por fim a mudança dos eleitores na abordagem às mensagens políticas, são fatores que obrigam a repensar a estratégia futura da comunicação política.

Surge então, dentro da terceira era emergente da comunicação política, a necessidade de procurar um meio eficaz que não permita que sejam os média a decidir o que se comunica ou não, ao nível da mensagem política, mas sim os agentes políticos em conjunto com os responsáveis da comunicação social.

Compete a estes responsáveis construir os canais para termos uma comunicação política que se quer sem ruído, sem filtros prévios, esclarecedora e acima de tudo, com a capacidade de chegar aos seus verdadeiros destinatários que são os eleitores.

O desafio é criar uma quarta era da comunicação política onde os agentes políticos e os representantes dos média possam, em conjunto, contribuir de forma responsável para uma sociedade mais informada, mais esclarecida e por consequência mais democrática.


Brasil. Entre o medo de manter o assalto do PT e o medo de uma nova ditadura.

O Brasil prepara-se para ir a votos, dia 28 de outubro, na segunda volta das eleições presidenciais. 

Na primeira volta, Bolsonaro saiu vencedor com 46% dos votos, mas o PT de Lula e Dilma, encabeçado pelo Haddad, conseguiu forçar a segunda volta, atingindo os 29% nas urnas.

Com uma campanha completamente polarizada entre Bolsonaro e Haddad, os grandes derrotados foram o atual Presidente Temer, que viu a maioria dos seus ministros derrotados nas urnas, o PSDB que ficou fora da segunda volta, pela primeira vez desde 94, a Marina, que se ficou por 1% dos votos, a Dilma, que não conseguiu ser eleita senadora, e o "status quo", os atuais senadores, pois 3 em cada 4 senadores que tentaram a reeleição não conseguiram ser reeleitos

Depois de todos os incidentes da primeira volta, vai ser interessante perceber como irá decorrer esta segunda parte da campanha. Uma coisa é certa, o mote está lançado e mais uma vez será o medo a definir o sentido do voto. O medo da insegurança e de se manter o "assalto" do PT no governo, versus o medo de uma nova ditadura

sábado, 6 de outubro de 2018

A última oportunidade

Hoje, o paradigma do líder político assenta em bases que são definidas no seio dos próprios partidos políticos e nas ideias defendidas por um status quo, uma pequena oligarquia, que procura não mudar nada. Já em 2016 escrevi sobre este tema e objetivamente pouco ou nada mudou.

Existem vários fatores que têm provocado o afastamento dos cidadãos da participação política, entre os quais o facto de os líderes, nos últimos anos, desiludirem os seus eleitores.  E isto tem levado cada vez maior número de pessoas a questionar os atuais líderes, a sua ação e o próprio futuro de Portugal.

Começa a ser óbvio que a necessidade de encontrar um novo paradigma de liderança é um imperativo nacional. Esta deve ser, aliás, uma discussão e um debate centrado na verdadeira necessidade de Portugal enquanto País periférico e dependente no quadro da União Europeia.

A política faz-se para as pessoas e com as pessoas, e um qualquer líder que despreze esta verdade fracassará.

Isto leva-nos à chamada “pergunta de um milhão de Euros”. Que líder queremos para o futuro? Será aquele que faz as perguntas certas ou aquele que nos oferece as respostas certas? Será um coordenador ou um catalisador? Será o homem do leme ou o navegador que estabelece a direção? Um futuro líder deverá ser um mestre na arquitetura financeira, económica ou social? Será um político? Um tecnocrata? Um gestor e um empreendedor de sucesso? Alguém com total independência do status quo? Ou um pouco de tudo isto?

Provavelmente é um líder com um pouco disto tudo. Alguém que desafie a “corte” de Lisboa (os interesses instalados)…alguém que possa agir em função de convicções (sem utopias e eleitoralismos), alguém que comunique para as pessoas e não para os média (mesmo que seja politicamente incorreto)…alguém que seja visto pelos portugueses como intrinsecamente sério (qualidade sine qua non para liderar)…alguém que corra como um Rio até atingir o Mar (que ultrapassa todos os obstáculos).

Assumamos que se fala do líder do PSD, afinal enquadra-se no perfil. Tendo em conta este cenário e sabendo que hoje é consensual que para ser um bom líder não basta ser um bom político, Rui Rio parece estar confortável com os desafios de um novo tempo onde a globalização é hoje uma realidade e onde os mercados comandam e definem as circunstâncias.

Os modelos de governação e os líderes do presente e do futuro têm de se adaptar aos novos tempos e Rio, apesar do ruído, está a trilhar esse caminho que talvez nunca tenha sido desbravado.

Trata-se de um caminho que põe em causa a estratégia das muitas das lideranças passadas que colocaram como prioridade a prática de técnicas de sobrevivência, em vez de darem prioridade ao desenvolvimento e ao sucesso do País.

Rui Rio parece querer fazer diferente e entendeu a diferença entre a sobrevivência política e o sucesso político. Por isso parece estar já a adaptar-se às novas realidades inovando na forma de agir e recriando o modelo de liderança assente nas bases corretas, de acordo com os interesses dos portugueses.

A ser assim, Rui Rio não só sobreviverá, como terá o sucesso associado à forma eficaz de gestão que defende para o País e à força das suas convicções. Mesmo que vozes residuais lhe vaticinem a morte política prematura.

Mas o líder do PSD não deve ceder, aliás deve procurar o sucesso de Portugal evitando a miopia que apenas vê a sobrevivência da sua liderança. Rui Rio deve abraçar uma estratégia de longo prazo, assente num programa verdadeiramente social-democrata, onde, sem tabus e sem dogmas, devem ser defendidos pactos de regime que garantam a estabilidade que perdurará no tempo garantindo um futuro de sucesso para Portugal.

Ninguém procura um D. Sebastião, mas sim uma alternativa ao estilo “ilusionista” e pouco confiável de António Costa. Os portugueses não querem um líder que diga hoje (5 vezes) que o Infarmed vai para o Porto e afinal amanhã já não vai. Os portugueses não querem um líder que enche a boca com a palavra dada, mas que nunca lhes dá uma palavra honrada.

Os portugueses querem um líder que seja motivador e que possa renovar a confiança dos cidadãos, cada vez mais afastados. Objetivamente procura-se “um de nós”, que transmita confiança, seriedade e acima de tudo esperança. Os portugueses procuram um líder, em quem possam depositar o futuro dos seus filhos e dos seus netos.

Rui Rio, como líder do maior partido com assento parlamentar e candidato a primeiro-ministro, tem a responsabilidade de criar o futuro e de inspirar os líderes de amanhã. Hoje é o tempo certo para resistir aos obstáculos e ter a coragem de implementar novas soluções que rompam com o status quo.

O líder do PSD tem a oportunidade de poder mudar uma receita falhada com mais de 40 anos de vida e os portugueses não lhe iriam perdoar que a transformasse numa oportunidade perdida…isso sim seria imperdoável.

As lideranças que defendem genuinamente as suas causas e que procuram o sucesso e bem-estar do seu povo, são as únicas capazes de mudar e de garantir que Portugal, ou qualquer outro País, tem Futuro.



Artigo publicado a 06/10/2018, na edição online do jornal Público:

https://www.publico.pt/2018/10/06/politica/opiniao/a-ultima-oportunidade-1846007


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A substância da Comunicação Política




A Comunicação Política é uma área em plena expansão quer do ponto de vista da reflexão teórica, quer do ponto de vista da sua prática nos mais variados domínios. Trata-se de uma temática central no panorama político atual e que tem de ser executada tendo em conta a essência da prática política e os princípios mais básicos da comunicação.

Na essência da prática política devemos apostar numa estratégia de comunicação inovadora e eficaz que responda e desmistifique a descrença que existe atualmente para com a classe política e que tem afastado os eleitores de participar.  

Nesta matéria para a comunicação ter sucesso é fundamental conhecer a "praxis" política, os comportamentos dos partidos políticos e dos aparelhos, as dinâmicas que existem nas relações inter-partidos e acima de tudo a forma como se relacionam com a comunicação social. Este é um conhecimento essencial para obter uma comunicação política eficaz. 

Relativamente aos princípios básicos de comunicação eles dizem-nos que quanto mais informação, quanto melhor o conhecimento acerca da governação e da liderança, dos programas eleitorais e do estado do país, mais se afirma a Democracia. 

Ora então poderíamos dizer que mais informação é a garantia de eleitorado esclarecido. Mas neste campo não é a quantidade da informação que importa, mas sim a qualidade e a clareza dessa informação.

Para o fornecimento dessa informação clara e de qualidade muito contribuem a grande maioria dos profissionais - da área da Ciência Política, da Comunicação e do marketing - que suportam a comunicação política recolhendo e interpretando informação e comunicando, da forma mais positiva possível, as decisões que são tomadas pelos líderes com quem colaboram.

Hoje a arena política é um meio que exige cada vez mais profissionalismo, técnica, rigor científico e nestas circunstâncias a comunicação política pressupõe planeamento, previsão e controlo. O que o líder político diz e faz e o modo como ele se apresenta, tem de ser acompanhado por uma mensagem política profissionalmente estabelecida e orientada para ser eficaz.

Nos dias que correm há cada vez menos espaço para o amadorismo, para o recurso ao improviso e para a falsa espontaneidade que faz com que muitos atores políticos prometam, sob pressão mediática, o que não podem fazer.

Importa cada vez mais controlar o acaso e conseguir antecipar e prever os impactos da comunicação política. O recurso a sondagens, pesquisas e análises rigorosas de matérias concretas permitem a antevisão e a intervenção que leva uma comunicação eficaz.

Mas na comunicação política - que se pretende sempre de confiança - nenhuma estratégia, por mais inovadora que seja, prevalece se no essencial um dirigente político não tiver ideias próprias, objectivos claros, convicções sólidas, um perfil de seriedade e acima de tudo valores.

Resta saber se os partidos políticos portugueses e os órgãos de comunicação social já compreenderam isso e se querem, em conjunto, renovar a confiança com os eleitores e os telespectadores para reduzir a falta de informação credível e acima de tudo a abstenção.


Linkedin: https://www.linkedin.com/pulse/subst%C3%A2ncia-da-comunica%C3%A7%C3%A3o-pol%C3%ADtica-rodrigo-gon%C3%A7alves/?published=t