O Montepio Geral Associação
Mutualista é uma instituição que agrega uma Caixa Económica, podendo assim
apresentar-se como um Banco com produtos e benefícios especiais para os seus
clientes/associados, produtos e benefícios esses com origem na Associação
Mutualista e também na Caixa Económica.
Aquilo que poderia (e deveria) ser o
paradigma da atividade financeira – que associava a nobreza e os princípios do
mutualismo à intervenção financeira – parece hoje ser um mau exemplo.
O Montepio Geral Associação
Mutualista, fechou as contas de 2015 com capitais negativos superiores a 107
milhões de euros, segundo refere uma auditoria da KPMG. Desta forma, clarifica
a KPMG, fica claro que o passivo é superior ao ativo, incluindo um resultado
negativo, imputado aos mutualistas, de 251.445 milhares de euros.
Na qualidade de Associado e de
cidadão fico preocupado. O Montepio Geral enfrenta hoje um cenário de falência
técnica, tendo neste momento a necessidade urgente de uma injecção de fundos.
São
apontadas duas soluções de curto prazo para resolver o (grave) problema. A
primeira solução é o recurso capital por via de um empréstimo. A segunda
solução passa pela venda de activos que o Montepio (Associação e Caixa
Económica) possui em carteira.
Mas apesar da preocupação que
devemos ter com as poupanças das pessoas e a sua salvaguarda é também importante exigir explicações
e responsabilidades aos supervisores.
No caso da Caixa Económica o supervisor
(Banco de Portugal) apresentou um relatório muito crítico da liderança e gestão
da instituição, no entanto vem tarde e talvez venhamos a encontrar sinais de
pouca diligência na supervisão.
Quanto à Associação Mutualista a
situação é bem mais preocupante e vergonhosa. Neste caso a
Supervisão/Fiscalização é da responsabilidade da tutela, nomeadamente a
Segurança Social (Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social) e
aqui a negligência é muito mais preocupante.
Sendo que as contas agora
avaliadas dizem respeito ao ano de 2015, levantam-se várias questões a
diferentes protagonistas:
O que fez o Ministro Pedro Mota
Soares (PSD/CDS) para verificar a situação do Montepio enquanto responsável
pela tutela?
E o que fez o Ministro Vieira da Silva (PS) que sempre refere a
necessidade de mais transparência e intervenção?
O que fizeram estes
responsáveis? Nada. Não fizeram nada!
Importa referir que ao nada
fazerem permitiram que mais uma entidade do sistema financeiro português esteja
hoje em posição frágil. Mas o Montepio não é só “mais uma” entidade. É a única
Associação Mutualista com uma Caixa Económica em Portugal. É o último espécimen de um
“Banco do Povo”. No Montepio são os Associados que intervêm e
mandam(ou deveriam ser).
O Montepio Geral esteve exposto às mais variadas interferências políticas nos últimos 25 anos
e para o confirmar basta verem quem compunha os órgãos sociais e respectivos Conselhos de Administração ao longo dos tempos. Esta é também uma das
principais causas da atual situação - associado a má gestão - e talvez por isso nenhum responsável político
tenha feito o que deveria.
Compete agora a todos
responsabilizar aqueles que fingem nada saber, desde os supervisores Banco de
Portugal e Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, passando
pelo Parlamento e comissões responsáveis, acabando na própria elite financeira.
Todos, em certa medida, têm de ser responsabilizados com penalizações diferentes,
mas efectivas.
Temos o dever de exigir
responsabilidades e com isso ajudar a salvar o “último Banco do povo”, para bem
do sistema bancário e principalmente para bem do Mutualismo.