quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

José Maria Costa concorre ao remake de "Citizen Kane" ???





Numa semana em que o spin político em torno da subconcessão dos ENVC atinge novos patamares do ridículo, o país foi confrontado com uma nova ofensiva, desta vez dirigida a Bruxelas.

O Presidente da Câmara de Viana do Castelo, "após uma reunião com responsáveis da direção-geral da Concorrência Europeia, sob a tutela do comissário Joaquín Almunia", decide largar uma bomba, acusando o Governo de dirigir uma operação clandestina, sem conhecimento da Comissão Europeia.
Após uma breve pesquisa na internet, fiquei apenas com a dúvida sobre qual foi a língua de trabalho utilizada na reunião?
Será que os responsáveis da direção-geral da Concorrência Europeia falaram em inglês, francês, alemão ou holandês?
Seja qual for a linguagem utilizada, o facto é que o Presidente da Câmara de Viana do Castelo, ou percebeu mal, ou não percebeu nada, ou faltou deliberadamente à verdade nas suas declarações.

E porquê?

Porque não correspondem à verdade dos factos. Mesmo admitindo falhas de comunicação, talvez motivadas por uma deficiente compreensão de inglês técnico, o que já é habitual nos dirigentes socialistas, é muito difícil acreditar que José Maria Costa não sabia que o conteúdo das suas declarações era falso.
Aliás, JMC nem precisava de ir a Bruxelas para colocar esta questão, pois a deputada europeia Marisa Matias já tinha colocado oficialmente a seguinte questão ao Comissário Joaquin Almunia :
Está a Comissão a par destes desenvolvimentos e desta subconcessão por ajuste direto dos terrenos dos Estaleiros de Viana do Castelo?

O comissário respondeu no dia 15 de Janeiro que a Comissão efetuou diversas trocas de correspondência com as autoridades portuguesas e está a acompanhar de perto a evolução mais recente da situação dos ENVC. Neste contexto, as autoridades portuguesas informaram a Comissão das medidas a que se refere o Senhor Deputado e do resultado do procedimento de subconcessão, bem como das medidas subsequentes que planeiam adotar em relação aos trabalhadores dos ENVC por cartas de outubro e novembro de 2013.

Só posso concluir, depois desta breve análise, que estamos a assistir a uma clara "operação clandestina" de spin doctoring, numa tentativa de lançar a suspeição e gerar a condenação mediática do processo de subconcessão dos ENVC. A cada semana assistimos à fabricação de novos "factos políticos", baseados em distorções e falsidades, com o objectivo de criar a sensação que "onde há fumo, há fogo", mantendo o assunto na agenda política, e a pira inquisitorial a arder em volta do Governo.
Quando William Randolph Hearst recebeu o telegrama do seu jornalista Remington, informando que não "iria haver nenhuma guerra em Cuba" (contra a Espanha), e lhe respondeu "tu forneces as fotografias, eu forneço a guerra", estavam lançadas as bases para a utilização moderna dos media privados para a concretização de agendas escondidas, influenciando a opinião pública para esse efeito.

Hoje o termo "Spin Doctor" caiu em desuso, substituído pela mais digna denominação de "Public Relations". Mas como em qualquer escola, existem bons e maus alunos, existem histórias bem e mal contadas, também encontramos bons e maus actores. A performance de José Maria Costa nesta "novela dos ENVC" só me leva a concluir que se ele concorresse ao casting para personagem principal do remake de "Citizen Kane", de Orson Welles, nunca passaria da primeira audição.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A "negociata" patriótica da Esquerda



No auge da polémica em torno dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o PCP anunciou que iria apresentar uma proposta para a criação de uma comissão eventual de inquérito parlamentar. Esse inquérito parlamentar pretendia apurar as responsabilidades dos vários Governos e administrações dos ENVC.
Entre os vários episódios que justificariam este inquérito parlamentar, o "caso do navio Atlântida, que encomendado e posteriormente repudiado pelo Governo Regional dos Açores em circunstâncias que nunca foram devidamente clarificadas, teve consequências desastrosas para a empresa."
Esta proposta, submetida no dia 6 de Dezembro, não recolheu apoio parlamentar suficiente, nomeadamente do Partido Socialista, e acabou chumbada.
Não satisfeitos, os comunistas voltaram à carga, e dias depois apresentaram nova proposta, que desta feita foi aprovada, com o apoio de 22 deputados socialistas.

Mas o que mudou, então, para permitir esta reviravolta?

Quando consultamos a nova proposta, percebemos que o PS só aprovou a proposta depois de se certificar que a Comissão não investigaria nada relacionado com a gestão dos seus governos.

Para o PCP já não é importante saber o que aconteceu com as contrapartidas do negócio dos submarinos.

Para o PCP, já não é importante clarificar o negócio do "Atlântida", episódio ainda mais estranho quando relembramos que ocorreu entre dois governos ( Nacional e Regional) de executivo socialista.

Para o PCP, já não é importante aferir quais os resultados dos negócios com a Venezuela, tão noticiados em 2010, aquando da visita de Hugo Chavez.

Afinal apesar das ultimas afirmações de António Filipe, os factos dizem-nos que o PCP pretende utilizar este inquérito parlamentar, não como um instrumento de apuração de factos e responsabilidades, mas sim como uma plataforma de ataque ao actual Governo.
O PCP, também pela voz de António Filipe, confronta muitas vezes outros partidos e dirigentes políticos com alegadas contradições nos seus discursos e decisões políticas. A autoridade moral com que o PCP lança estas acusações, advém da exaltação da sua coerência ideológica, e da sua capacidade de resistir ao pragmatismo ditado pela conjuntura.

Pois neste processo o PCP manchou esse património histórico, ao deixar de lado a busca pela verdade, a investigação daquilo que, em Setembro de 2013, António Filipe considerava ser um "estranho caso do navio Atlântida, que devia ser um caso de polícia e cujas responsabilidades das administrações dos Estaleiros e dos Governos dos Açores e da República nunca foram apuradas como deviam..."

Assim não, camarada!



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

"As eleições não se ganham, perdem-se" e ninguém sabe bem porquê...

2014 é o ano em que a TROIKA sai de Portugal. 

A TROIKA entrou em Portugal no seguimento do pedido de intervenção externa feito pelo primeiro-ministro da altura, em Abril de 2011 e ao que tudo indica vai sair a 17 de Maio de 2014… 3 anos depois. 

Desses tempos primordiais ficam as memórias, já vagas, de um governo que apenas tinha reservas financeiras para assegurar o funcionamento do sector público para meia dúzia de semanas, de um endividamento externo de 110%, e de um país incapaz de se financiar com taxas de juro a bater recordes (entre 7% e 9%). 

É difícil esquecer que o país estava na bancarrota. 



A moda na altura era dizer que o caminho era “cortar”, era “reformar”. A moda na altura era entendimento para tirar o país do buraco. Ao ponto do PS, PSD e CDS terem assinado um memorando de entendimento com a TROIKA que condicionaria os orçamentos e a governação para os 3 anos seguintes. 

Em troca conquistaríamos credibilidade nos mercados financeiros e, com alguma sorte, conseguiríamos implementar reformas estruturais que de outra forma nunca se conseguiriam realizar.

E assim chegámos a 2014.

Agora Portugal está a sair da recessão, a economia cresce, o PIB aumenta e o desemprego desce. Estamos com crescimento sólido nas exportações, com a produção Industrial a aumentar, ouvimos a OCDE a confirmar o cenário de retoma da economia portuguesa e temos os juros da dívida a descer. 

É assim que começámos o ano. Com um deficit em 2013 de 5%, ou seja, abaixo do limite a que Portugal estava obrigado.

No entanto, o ano de 2013 terminou com as sondagens a derreterem literalmente o governo. Se as eleições fossem em Dezembro passado o PSD e Pedro Passos Coelho perderiam as eleições.

Apesar de poder parecer estranho este fenómeno é bastante natural. 

Quanto pesa no orçamento de uma família 5% de deficit?

Até agora apenas falámos de números, indicadores e siglas que poucos sabem bem o que são. 

O efeito dos resultados positivos que Portugal tem conseguido ao nível das suas finanças não são imediatos. Os dados estatísticos que surgem na OCDE, no INE, ou no EUROSTAT demoram muito tempo a ter reflexo efetivo na vida dos portugueses. 

Até ao momento a única coisa que os portugueses têm sentido é o impacto da austeridade, em particular os reformados (que são pais e avós de muitos portugueses) e os funcionários públicos, também eles pais, filhos e familiares de muitos eleitores. Ou seja, para além de haver muita gente a ter razões para repudiar a austeridade, porque custa, há muito mais gente a ouvir familiares e amigos a explicar como a austeridade entrou na sua vida. E este efeito replicativo influencia a decisão de voto. A opinião da mãe reformada, do filho desempregado, ou da irmã professora influencia o voto. 

Se a isto associarmos o descrédito da classe política, podemos facilmente compreender os resultados das sondagens, que não dando maioria absoluta a ninguém anteveem uma derrota do partido do governo que conseguiu tirar Portugal da crise, abrindo espaço ao partido que mais contribuiu para termos sido sujeitos à austeridade (não esquecer que nos últimos 20 anos, o PS governou 14).

Esta aparente injustiça é mais comum na história da democracia do que poderíamos pensar. 

Um dos casos mais emblemáticos é o do próprio Churchill que depois de ter liderado o Reino Unido durante a II Grande Guerra perde as eleições nas vésperas da vitória, uma injustiça aparente, mas que tem razão de ser. 

Provavelmente o facto de considerar que não era preciso fazer campanha ajudou, mas provavelmente a maior razão foi a de não compreender o sentimento das pessoas e continuar a insistir na ideia do “sangue, trabalho árduo, suor e lágrimas”, tão verdade para o período da guerra, mas incompreensível para os ingleses que já olhavam para o pós-guerra e queriam mais do que isso. 

De longe querer comparar um ao outro, até porque não consta que o nosso PM nutra a mesma simpatia por whisky e por charutos, mas é um facto que Pedro Passos Coelho não é adepto de campanha e que mantém um discurso de esforço e sacrifício (que todos reconhecem como necessários, mas que já ninguém quer).

A verdade é que a última sondagem publicada (ver aqui) dá ao PSD um resultado inferior ao que o PS e José Sócrates tiveram no auge da contestação ao PS, razão pela qual apenas nos resta saber se a retoma e o reflexo dessa retoma, nas famílias portuguesas, será célere o suficiente para evitar mais uma injustiça.