terça-feira, 30 de outubro de 2018

E o medo decidiu

A insegurança, o descrédito no PT e o desespero prevaleceram. A insegurança, com uns pozinhos de reação ao ridículo de um candidato ir à prisão receber instruções de um condenado por corrupção marcou o fim da era Lula.

Aparentemente, o Brasil preferiu o risco de perder Liberdade e de criar um estado securitário a manter uma taxa de homicídio 30 vezes superiores aos números europeus

Quando falamos do Brasil temos de ter a noção que estamos a falar de outro mundo. No Brasil uma pessoa é morta a cada 9 minutos. Em Portugal, quando saímos de casa de manhã para ir trabalhar ligamos a app para ver onde há trânsito, no Brasil ligam a app para saber onde há tiroteio.  Isto terá sido o principal motivo para eleitores que em tempos votaram Lula, ou Aécio, agora terem votado em massa no Bolsonaro. 

Para facilitar um pouco, nesta segunda volta a pergunta que foi feita aos eleitores brasileiros não foi se preferiam viver em liberdade, ou se preferiam viver em ditadura. A pergunta foi se preferiam ser governados por um Vale e Azevedo, num país onde nem em casa estás seguro, ou se preferiam mudar para um ex-militar, correndo o risco de perder uma Liberdade que para a maioria já não existe.

Ao contrário do que a larga maioria dos analistas tem assumido, tenho muitas dúvidas que o problema da corrupção tenha tido um papel preponderante na decisão do voto, tenho dúvidas se não terá sido mais do que um racional para justificar o voto num candidato que se deixa fotografar com uma metralhadora na mão. Até porque o próprio Bolsonaro também é alvo de suspeitas, aliás que os seus adversários exploraram sem qualquer resultado prático. 


(foto retirada daqui)

O Presidente Eleito da República Brasileira é Jair Bolsonaro, foi eleito democraticamente. Qualquer repúdio ao ato em si, ao processo eleitoral, é absurdo por natureza, pelo menos para qualquer instituição democrática, defensora da Liberdade. No entanto, observar o conservadorismo dogmático e o sectarismo chegarem ao poder é preocupante. Uma preocupação que deve ir para além da birra daqueles que têm sido coniventes com os falhanços governativos nas grandes democracias mundiais. 

A questão que deveriamos estar a colocar neste momento é como evitar que o mesmo aconteça na Europa. Repudiar atos democráticos só ajuda a extremar posições, torna-nos parte do problema e não da solução.

Neste momento, depois de uma escolha legítima e democrática resta-nos desejar que o povo Brasileiro consiga unir-se, desejar que as instituições que zelam pela democracia brasileira funcionem, e que o Presidente e o seu Vice-Presidente (Jair Bolsonaro e  Hamilton Mourão) demonstrem que tudo o que se tem sido dito sobre eles não passe de uma narrativa, prevalecendo a Tolerância e a Liberdade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A quarta "Era" da comunicação


Em tempos passados, a forma de comunicação política era direta e fazia-se através de reuniões públicas em salões de igrejas, cinemas, salões de baile e campanhas políticas de porta-a-porta. Nos dias de hoje, estes métodos são cada vez menos comuns e limitados, principalmente a países onde a tecnologia não permite que a mensagem seja enviada diretamente para casa das pessoas.

Estamos perante uma evolução da comunicação e nesse sentido, já em 1999, os autores Blumler e Kavanaugh distinguiam a evolução da comunicação política em três eras distintas. 

A primeira era, ocorreu antes do início da televisão, quando os principais canais de comunicação eram instituições políticas fortes e estáveis, como os partidos políticos tradicionais ligados aos regimes.

A segunda era, foi aquela onde as mensagens passaram a ser transmitidas através dos meios de comunicação de massa, o que fez com que a procura por profissionais de comunicação tenha aumentado uma vez que estando estes profissionais inseridos no meio, poderiam explorar melhor as suas vantagens.

Na terceira era, ainda emergente, a componente essencial distinguida foi a existência dos média e todos os seus canais de comunicação. Nesta era, a profissionalização da comunicação política torna-se cada vez mais evidente e passa a ser um fator essencial de sucesso. Os seus melhores profissionais colocam como prioridade a orientação dos agentes políticos, para que possam comunicar através da multiplicidade de canais, cada um deles com um conjunto de necessidades e formatos específicos.

É hoje claro que estamos na terceira era da comunicação política e esta tornou-se uma atividade voltada para as grandes massas usando os meios de comunicação (jornais, televisões e redes sociais). Esta mudança de paradigma permitiu que os média não só escolham o que transmitir como notícia, mas também escolham a maneira como essa notícia deve chegar aos respetivos grupos que compõem a sociedade.

A comunicação política, hoje, deixou de ser uma atividade direta, pessoal, face a face, para ser conduzida, indiretamente, através dos órgãos de comunicação social e dos vários canais de comunicação. Neste caso só as redes sociais podem fugir deste controlo dos órgãos de comunicação social.

Embora estas mudanças possam ter algumas perversões - e é fatual que têm - não deixam de representar um avanço enorme para a comunicação política, conseguindo desta forma, um meio para chegar o mais longe possível.

Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, a mensagem política chega a cada vez mais eleitores e isso significa que a evolução tecnológica ajudou, e ajuda a influenciar mais pessoas e mais instituições.

Se tivermos em conta a proliferação da internet nas últimas décadas temos de reconhecer que esta representou uma verdadeira revolução para a democracia global. Hoje cada vez mais cidadãos têm acesso à informação política o que, de certa forma, permite dar-lhes as ferramentas e conhecimentos para que as escolhas que possam vir a fazer sejam cada vez mais conscientes e sustentadas.

Além disso cada cidadão com acesso à comunicação passa a ser um meio de difusão da mensagem política, o que permite que esta mesma mensagem atinja todos os cantos do mundo.

Mas nesta era da abundância dos média, a comunicação política tem vindo a ser reformulada por tendências que fogem da origem da ciência política e da comunicação simples.

O aumento das pressões competitivas dos órgãos de comunicação social; o populismo anti-elitista e tão “acarinhado” por alguns jornalistas de uma pertença esquerda; o sebastianismo defendido por jornalistas de uma pertença direita que desvaloriza as opiniões contrárias; o experimentalismo e ambição (desmedida) de alguns profissionais da comunicação política; a avidez selvagem de algumas agências de comunicação; o jornalismo tendencioso (que recorre a falsas fontes); e por fim a mudança dos eleitores na abordagem às mensagens políticas, são fatores que obrigam a repensar a estratégia futura da comunicação política.

Surge então, dentro da terceira era emergente da comunicação política, a necessidade de procurar um meio eficaz que não permita que sejam os média a decidir o que se comunica ou não, ao nível da mensagem política, mas sim os agentes políticos em conjunto com os responsáveis da comunicação social.

Compete a estes responsáveis construir os canais para termos uma comunicação política que se quer sem ruído, sem filtros prévios, esclarecedora e acima de tudo, com a capacidade de chegar aos seus verdadeiros destinatários que são os eleitores.

O desafio é criar uma quarta era da comunicação política onde os agentes políticos e os representantes dos média possam, em conjunto, contribuir de forma responsável para uma sociedade mais informada, mais esclarecida e por consequência mais democrática.


Brasil. Entre o medo de manter o assalto do PT e o medo de uma nova ditadura.

O Brasil prepara-se para ir a votos, dia 28 de outubro, na segunda volta das eleições presidenciais. 

Na primeira volta, Bolsonaro saiu vencedor com 46% dos votos, mas o PT de Lula e Dilma, encabeçado pelo Haddad, conseguiu forçar a segunda volta, atingindo os 29% nas urnas.

Com uma campanha completamente polarizada entre Bolsonaro e Haddad, os grandes derrotados foram o atual Presidente Temer, que viu a maioria dos seus ministros derrotados nas urnas, o PSDB que ficou fora da segunda volta, pela primeira vez desde 94, a Marina, que se ficou por 1% dos votos, a Dilma, que não conseguiu ser eleita senadora, e o "status quo", os atuais senadores, pois 3 em cada 4 senadores que tentaram a reeleição não conseguiram ser reeleitos

Depois de todos os incidentes da primeira volta, vai ser interessante perceber como irá decorrer esta segunda parte da campanha. Uma coisa é certa, o mote está lançado e mais uma vez será o medo a definir o sentido do voto. O medo da insegurança e de se manter o "assalto" do PT no governo, versus o medo de uma nova ditadura

sábado, 6 de outubro de 2018

A última oportunidade

Hoje, o paradigma do líder político assenta em bases que são definidas no seio dos próprios partidos políticos e nas ideias defendidas por um status quo, uma pequena oligarquia, que procura não mudar nada. Já em 2016 escrevi sobre este tema e objetivamente pouco ou nada mudou.

Existem vários fatores que têm provocado o afastamento dos cidadãos da participação política, entre os quais o facto de os líderes, nos últimos anos, desiludirem os seus eleitores.  E isto tem levado cada vez maior número de pessoas a questionar os atuais líderes, a sua ação e o próprio futuro de Portugal.

Começa a ser óbvio que a necessidade de encontrar um novo paradigma de liderança é um imperativo nacional. Esta deve ser, aliás, uma discussão e um debate centrado na verdadeira necessidade de Portugal enquanto País periférico e dependente no quadro da União Europeia.

A política faz-se para as pessoas e com as pessoas, e um qualquer líder que despreze esta verdade fracassará.

Isto leva-nos à chamada “pergunta de um milhão de Euros”. Que líder queremos para o futuro? Será aquele que faz as perguntas certas ou aquele que nos oferece as respostas certas? Será um coordenador ou um catalisador? Será o homem do leme ou o navegador que estabelece a direção? Um futuro líder deverá ser um mestre na arquitetura financeira, económica ou social? Será um político? Um tecnocrata? Um gestor e um empreendedor de sucesso? Alguém com total independência do status quo? Ou um pouco de tudo isto?

Provavelmente é um líder com um pouco disto tudo. Alguém que desafie a “corte” de Lisboa (os interesses instalados)…alguém que possa agir em função de convicções (sem utopias e eleitoralismos), alguém que comunique para as pessoas e não para os média (mesmo que seja politicamente incorreto)…alguém que seja visto pelos portugueses como intrinsecamente sério (qualidade sine qua non para liderar)…alguém que corra como um Rio até atingir o Mar (que ultrapassa todos os obstáculos).

Assumamos que se fala do líder do PSD, afinal enquadra-se no perfil. Tendo em conta este cenário e sabendo que hoje é consensual que para ser um bom líder não basta ser um bom político, Rui Rio parece estar confortável com os desafios de um novo tempo onde a globalização é hoje uma realidade e onde os mercados comandam e definem as circunstâncias.

Os modelos de governação e os líderes do presente e do futuro têm de se adaptar aos novos tempos e Rio, apesar do ruído, está a trilhar esse caminho que talvez nunca tenha sido desbravado.

Trata-se de um caminho que põe em causa a estratégia das muitas das lideranças passadas que colocaram como prioridade a prática de técnicas de sobrevivência, em vez de darem prioridade ao desenvolvimento e ao sucesso do País.

Rui Rio parece querer fazer diferente e entendeu a diferença entre a sobrevivência política e o sucesso político. Por isso parece estar já a adaptar-se às novas realidades inovando na forma de agir e recriando o modelo de liderança assente nas bases corretas, de acordo com os interesses dos portugueses.

A ser assim, Rui Rio não só sobreviverá, como terá o sucesso associado à forma eficaz de gestão que defende para o País e à força das suas convicções. Mesmo que vozes residuais lhe vaticinem a morte política prematura.

Mas o líder do PSD não deve ceder, aliás deve procurar o sucesso de Portugal evitando a miopia que apenas vê a sobrevivência da sua liderança. Rui Rio deve abraçar uma estratégia de longo prazo, assente num programa verdadeiramente social-democrata, onde, sem tabus e sem dogmas, devem ser defendidos pactos de regime que garantam a estabilidade que perdurará no tempo garantindo um futuro de sucesso para Portugal.

Ninguém procura um D. Sebastião, mas sim uma alternativa ao estilo “ilusionista” e pouco confiável de António Costa. Os portugueses não querem um líder que diga hoje (5 vezes) que o Infarmed vai para o Porto e afinal amanhã já não vai. Os portugueses não querem um líder que enche a boca com a palavra dada, mas que nunca lhes dá uma palavra honrada.

Os portugueses querem um líder que seja motivador e que possa renovar a confiança dos cidadãos, cada vez mais afastados. Objetivamente procura-se “um de nós”, que transmita confiança, seriedade e acima de tudo esperança. Os portugueses procuram um líder, em quem possam depositar o futuro dos seus filhos e dos seus netos.

Rui Rio, como líder do maior partido com assento parlamentar e candidato a primeiro-ministro, tem a responsabilidade de criar o futuro e de inspirar os líderes de amanhã. Hoje é o tempo certo para resistir aos obstáculos e ter a coragem de implementar novas soluções que rompam com o status quo.

O líder do PSD tem a oportunidade de poder mudar uma receita falhada com mais de 40 anos de vida e os portugueses não lhe iriam perdoar que a transformasse numa oportunidade perdida…isso sim seria imperdoável.

As lideranças que defendem genuinamente as suas causas e que procuram o sucesso e bem-estar do seu povo, são as únicas capazes de mudar e de garantir que Portugal, ou qualquer outro País, tem Futuro.



Artigo publicado a 06/10/2018, na edição online do jornal Público:

https://www.publico.pt/2018/10/06/politica/opiniao/a-ultima-oportunidade-1846007


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A substância da Comunicação Política




A Comunicação Política é uma área em plena expansão quer do ponto de vista da reflexão teórica, quer do ponto de vista da sua prática nos mais variados domínios. Trata-se de uma temática central no panorama político atual e que tem de ser executada tendo em conta a essência da prática política e os princípios mais básicos da comunicação.

Na essência da prática política devemos apostar numa estratégia de comunicação inovadora e eficaz que responda e desmistifique a descrença que existe atualmente para com a classe política e que tem afastado os eleitores de participar.  

Nesta matéria para a comunicação ter sucesso é fundamental conhecer a "praxis" política, os comportamentos dos partidos políticos e dos aparelhos, as dinâmicas que existem nas relações inter-partidos e acima de tudo a forma como se relacionam com a comunicação social. Este é um conhecimento essencial para obter uma comunicação política eficaz. 

Relativamente aos princípios básicos de comunicação eles dizem-nos que quanto mais informação, quanto melhor o conhecimento acerca da governação e da liderança, dos programas eleitorais e do estado do país, mais se afirma a Democracia. 

Ora então poderíamos dizer que mais informação é a garantia de eleitorado esclarecido. Mas neste campo não é a quantidade da informação que importa, mas sim a qualidade e a clareza dessa informação.

Para o fornecimento dessa informação clara e de qualidade muito contribuem a grande maioria dos profissionais - da área da Ciência Política, da Comunicação e do marketing - que suportam a comunicação política recolhendo e interpretando informação e comunicando, da forma mais positiva possível, as decisões que são tomadas pelos líderes com quem colaboram.

Hoje a arena política é um meio que exige cada vez mais profissionalismo, técnica, rigor científico e nestas circunstâncias a comunicação política pressupõe planeamento, previsão e controlo. O que o líder político diz e faz e o modo como ele se apresenta, tem de ser acompanhado por uma mensagem política profissionalmente estabelecida e orientada para ser eficaz.

Nos dias que correm há cada vez menos espaço para o amadorismo, para o recurso ao improviso e para a falsa espontaneidade que faz com que muitos atores políticos prometam, sob pressão mediática, o que não podem fazer.

Importa cada vez mais controlar o acaso e conseguir antecipar e prever os impactos da comunicação política. O recurso a sondagens, pesquisas e análises rigorosas de matérias concretas permitem a antevisão e a intervenção que leva uma comunicação eficaz.

Mas na comunicação política - que se pretende sempre de confiança - nenhuma estratégia, por mais inovadora que seja, prevalece se no essencial um dirigente político não tiver ideias próprias, objectivos claros, convicções sólidas, um perfil de seriedade e acima de tudo valores.

Resta saber se os partidos políticos portugueses e os órgãos de comunicação social já compreenderam isso e se querem, em conjunto, renovar a confiança com os eleitores e os telespectadores para reduzir a falta de informação credível e acima de tudo a abstenção.


Linkedin: https://www.linkedin.com/pulse/subst%C3%A2ncia-da-comunica%C3%A7%C3%A3o-pol%C3%ADtica-rodrigo-gon%C3%A7alves/?published=t



sábado, 22 de setembro de 2018

Ação construtiva


Em tempos de alguma agitação política, que antecede a discussão do Orçamento de Estado, as mentes mais inquietas e impreparadas precipitam-se. Convém portanto descer à terra.

Acabou a Silly Season e com isso reaparecem os problemas que só o mês de Agosto (e algumas agências de comunicação) consegue esconder.

Na saúde afinal ainda temos 711.000 portugueses sem médico de família (segundo dados de 2017) e milhares em filas de espera para consultas e cirurgias.

Na educação inicia-se o ano letivo com falta de profissionais nas escolas e temos os professores descontentes por não lhes verem reconhecida a contagem de tempo de serviço.

Na defesa, o roubo de Tancos continua por resolver e nem um valente puxão de orelhas de Marcelo Rebelo de Sousa ao Ministro parece vir a resolver esta vergonhosa e grave situação como disse Rui Rio.

Na justiça, para além da novela da nova PGR, mantem-se a ausência de coragem para reformas sérias e reverte-se – por pressão política – qualquer medida que possa baixar a popularidade do governo ou de António Costa.

Na administração interna assistimos à degradação dos serviços de segurança e à degradação das condições de trabalho dos profissionais da PSP e da GNR a cada dia.

Nas finanças, onde nos vendem o “el Dorado”, regressamos da utopia cada vez que a UTAO comunica a real situação do País e nos diz que a fatura com a dívida cresce 3,8% quando o governo previa 1,4%.

E até os comentários domingueiros de Marques Mendes, a defender com vigor a governação socialista - lembrando o saudoso Vasco Granja quando falava de desenhos animados checos – regressaram sem disfarces do autor, tamanho é o entusiasmo.

O País está anestesiado. A CGTP, a UGT e os sindicatos em geral estão amordaçados. Os Professores, os Policias, os Médicos, os Enfermeiros, os Funcionários Públicos em geral, embora descontentes, parecem estar sob o efeito placebo.

Esta falta de adesão à realidade só pode ser combatida com uma ação construtiva. Compete, portanto, aos partidos da oposição construírem uma alternativa a este estado de coisas e isso só será possível com uma ação disruptiva que contrarie o que tem sido imposto pelo Status Quo.

Falamos de um Status Quo que se move nos corredores do poder, faz já muitos anos, e por consequência disso não aceita que alguém lhes mude as regras, lhe reduza o poder, ainda por cima se esse alguém é um político incontrolável e classificado, por muitos, como sério.

A receita para combater este cancro que espalha metástases por todo o lado é uma quimioterapia cheia de ação construtiva, onde o politicamente correto não tem lugar e onde só cabe a defesa dos verdadeiros interesses nacionais.

Não podemos continuar a fingir que não vemos a realidade. Este é o momento de ação, como disse Álvaro Cunhal, “Tomemos nas nossas mãos os destinos das nossas vidas.”

Mas devemos fazê-lo por via de uma ação construtiva, firme e séria. Assim a diferença será evidente e ganharemos a disponibilidade daqueles que hoje estão afastados para, em conjunto, participarem na construção do futuro.

E para os que, pensando no que está mal se vão acomodando, termino citando Francisco Sá Carneiro que conscientemente disse, “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for.”.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O Brasil é brutal

O Brasil é um país brutal, pela dimensão, pela riqueza, pela cultura, mas também pela violência e pela pobreza.

No último ano tenho-me cruzado com vários brasileiros a viver em Portugal, mas não os típicos brasileiros que nos habituámos a ver, nos anos 90, pelas ruas de Cascais e a trabalhar em restaurantes e centros comerciais. São brasileiros instruídos e com poder de compra.

Das conversas que vou tendo há um ponto que todos têm em comum, todos dizem ter deixado o Brasil por causa da violência, por causa da insegurança. É óbvio que também vêm para trabalhar (e todos estão a trabalhar, com negócio próprio), mas neste planeta global, deixaram negócios a funcionar e família, com que falam regularmente por whatsapp e skype, para educarem os filhos no nosso sistema de ensino, longe da violência e dentro da União Europeia.

A campanha que está a decorrer neste momento no Brasil é uma oportunidade para nos apercebermos da diversidade e dimensão do Brasil - da brutalidade que é aquele país. 

Nos tempos de antena, muitos deles brilhantes, apercebemo-nos dessa dimensão, onde apanhamos um pouco de tudo, do cristianismo ideológico, ao apelo à rebelião e à revolução, passando pela irracional vitimização do Lula...




Ontem o Bolsonaro, um dos candidatos mais polémicos e mais conservadores, que tem direito a apenas 8 segundos de tempo de antena, mas que já lidera as sondagens, sofreu um atentado à sua vidaNum país minado pela insegurança, onde quem tem possibilidade de sair do país o faz para se afastar da violência, o atentado ao Bolsonaro irá ter certamente um forte impacto no resultado eleitoral. 

Resta saber o quanto este atentado o irá alavancar, pois as últimas sondagens indiciam que se trata de um candidato que lidera na primeira volta, mas que perde na segunda, independentemente de quem for o seu opositor


(foto retirada daqui)


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Tolerância à Portuguesa

Os organizadores da Web Summit decidiram (des)convidar a Presidente da Frente Nacional Francesa, Marine Le Pen, e isso revelou a (in)tolerância de alguns politiqueiros e comentadores.


Embora não perceba o propósito de terem Le Pen como convidada numa Convenção onde a tecnologia e a comunicação associadas à Web são o propósito, verifiquei que a onda de choque nas redes sociais e nos média foi equivalente a um 7.5 na escala de Richter.

Os representantes da esquerda - a extrema e a tradicional - levantaram a voz e indignados apelaram aos mais básicos princípios do Totalitarismo. Silenciar, calar, banir, excluir, impedir e atacar.

Infelizmente assistimos a este exercício de demagogia e desonestidade intelectual por parte daqueles que, por ausência seletiva de memória, tentam branquear as visitas, em 1998 e 2000, do Ditador Cubano, Fidel Castro, recebido com honras de estado por António Guterres.

Falamos dos mesmos que esquecem a aprovação, pela esquerda parlamentar, de um voto de pesar pela morte de Fidel em 2016, onde referia que era “Uma referência incontornável que consagrou a sua vida aos ideais do progresso social e da paz”, pasme-se.

Será aceitável termos injeções de intolerância dos mesmos que, em silêncio e com vénias, viram José Sócrates receber em 2008 o seu “Bom amigo” Hugo Chavez, Presidente da Venezuela e um dos mais duros ditadores que perduraram no século XXI?

Mas ainda temos o paradigma da falta de bom senso que é omitirem a visão de Sócrates aos abracinhos a Khadafi, que foi mais um dos Ditadores que ainda resistiu no século XXI e que os moralistas desta esquerda (in)tolerante consideravam um parceiro fundamental para Portugal.

Fazem ruído mediático para rejeitar a participação de uma representante da extrema direita francesa num evento privado. Mas, em contrapartida, veneram alguns dos maiores ditadores da história considerando isso um sinal de elevação e maturidade intelectual. Que mau exemplo para a democracia.

Os que fazem este ruído nunca devem ter lido o Tratado sobre a tolerância, obra que François Marie Arouet, filósofo francês mais conhecido por Voltaire, publicou em 1763. Se tivermos como base a intolerância o que nos pode esperar não é a convivência pacífica entre indivíduos que pensam de forma diferente, mas sim a divergência permanente.

Não se vencem os adversários com intolerância, calando-os, banindo-os ou excluindo-os. Só se pode vencê-los, ouvindo-os e enfrentando-os em debate para assim desmascarar as suas contradições, expor as suas fragilidades, denunciar o seu populismo e arrasar os seus valores desvirtuados.

Não nutro nenhuma simpatia pelas ideias que defende Marine Le Pen. Mas nutro ainda menos simpatia pelos “donos” da moralidade, esses intolerantes que inundam o nosso panorama político e vagueiam pela nossa comunicação social, tentando fazer e influenciar a opinião.

O antídoto para combater estes demagogos é precisamente a tolerância com o recurso a outro princípio básico da democracia…permitir que usem da liberdade de expressão.

Como dizia Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito a dizê-las.”


Artigo Publicado no Jornal Público de 18 de Agosto de 2018:



terça-feira, 14 de agosto de 2018

Parabéns Steve Bannon

A vinda da Le Pen a Portugal, paga pelos contribuintes portugueses, é dos momentos mais caricatos promovidos pela geringonça.

Se é certo que o Steve Bannon é um estratega eficaz, ter sido a geringonça a cair na esparrela é hilariante. 

Depois do Robles ter desmascarado a esquerda façonable, o BE ser conivente com o patrocínio à Marine Le Pen, tanto na Câmara Municipal de Lisboa, como no apoio ao governo é de ir às lágrimas.

O mais grave em toda esta situação é que aconteça o que acontecer, a Marine Le Pen, o Bannon e o PNR já conseguiram o que queriam. A única forma de não cumprir os objetivos do Bannon seria ter-se conseguido explicar ao Paddy Cosgrave que não podia utilizar aquele espaço para propaganda xenófoba, pelo menos com financiamento público. Qualquer alternativa é uma vitória para a Le Pen, se não vejamos:

  • Depois da celeuma mediática a Le Pen é retirada novamente da lista de oradores - a publicidade que criou associada à vitimização que consegue, permite que muitos conservadores se deixem enredar na conversa do direito ao contraditório e da liberdade de expressão castrada (esquecendo-se de que não pode haver tolerância para quem defende o ódio e a intolerância). A simpatia pela Le Pen aumenta. 
  • Depois da celeuma a Le Pen vem à websummit - A esquerda excitada corre a manifestar-se e excede-se, como acontece sempre. O que permite a vitimização da Le Pen e leva a que muitos conservadores se deixem enredar na conversa do direito ao contraditório e da liberdade de expressão castrada (esquecendo-se de que não pode haver tolerância para quem defende o ódio e a intolerância). A simpatia pela Le Pen aumenta.

(Imagem retirada daqui)

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A Le Pen foi corrida da websummit

Felizmente alguém teve juízo e tirou a Marine Le Pen da lista de convidados da WebSummit Lisboa.

Seria incompreensível que uma organização como a Websummit, onde se discutem as novas tendências tecnológicas, desse tempo de antena a quem vive presa à mentalidade de um passado que envergonha a Europa.

Apesar de haver quem defenda que esta atitude de censura põe em causa o princípio da Liberdade, não é verdade. Não podemos ser tolerantes com quem é intolerante. 

O Paradoxo da Tolerância, apresentado por Karl Popper em 1945, lança uma luz sobre o porquê.  


(para quem não sabe, ao lado da Le Pen está o Steve Bannon, um dos responsáveis pela eleição de Donald Trump)

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Os “Robles” e o Capital Político


Para que os decisores possam mobilizar e atrair, é essencial que tenham uma saudável e consistente reserva de capital político. 


Este capital relaciona-se com uma condição que os políticos precisam de ter para agir bem e com a capacidade de influenciar as decisões políticas, no sentido certo.

Um eleito, na sua acção legitima, nem sempre tem uma tarefa simples. Muitas vezes enfrentam problemas complexos e precisam tomar decisões difíceis, com consequências desagradáveis ​​para os cidadãos.  

É para que possam tomar as decisões necessárias, e para que possam sobreviver politicamente, que os nossos representantes precisam de capital político.

Este capital pode ser considerado uma unidade de medida que permite avaliar a autoridade dos que se movem na esfera do poder e mede-se essencialmente por três fatores: as habilidades, as relações com o meio envolvente e a reputação.

O primeiro fator - habilidades - refere-se, por um lado, a qualidades como a competência técnica e por outro lado, a uma visão e discurso convincente, capaz de inspirar o público. Este primeiro fator refere-se às habilidades cognitivas, físicas e de comunicação.

O segundo fator - relação com o meio envolvente – assenta na noção de que autoridade e capital político não existem isoladamente, mas surgem na sequência do relacionamento entre o individuo e o meio onde age.  

Neste caso, o capital político refere-se ao fator das lealdades que os decisores públicos mobilizam nas relações com os seus seguidores, mas também com a comunicação social e com todo o eleitorado.

O terceiro fator - reputação - pode resumir-se a uma questão simples. Até que ponto um político mantém as suas promessas e em que medida consegue corresponder às expectativas generalizadas? A resposta deve assentar em premissas como a boa formação e os valores que garantem a coerência de cumprir o que se promete e fazer o que se diz.

Assim cai o mito que associa o capital político à credibilidade. É uma associação frágil, que nem sempre tem adesão à realidade.  O valor da credibilidade deveria ser a base do capital político uma vez que os dois conceitos não parecem poder existir um sem o outro, mas nem sempre é assim.

Tem de ser cada vez mais evidente que a acção dos protagonistas deste tempo deve assentar na credibilidade e só por essa via devem ter mais (ou menos) crédito.

No entanto, ao contrário do que deveria ser, hoje o cenário português parece cópia fiel do que defendeu Pierre Bourdieu em 2000 no seu livro “Propos sur le Champ Politique”, quando defendia a ideia de que o campo político é composto por sujeitos iniciados que, ligados entre si, têm como fim perpetuar a sua posição no jogo político.

Hoje o capital político assente na credibilidade parece cada vez mais um conceito em extinção, e basta ver os exemplos dos “Robles”, das “Catarinas” e de outros protagonistas, da direita à esquerda dos nossos partidos.

É difícil aceitar que sejam estes os protagonistas que condicionam o futuro dos nossos filhos. Primeiro porque têm pouca credibilidade e segundo porque não são merecedores de qualquer capital político.


Monarquia e República

Em 2014 escrevi um post sobre as diferenças entre os sistemas políticos República e Monarquia. Reescrito gora, com algumas alterações. 

Muitos são os argumentos utilizados a favor da monarquia.

O argumento do desenvolvimento Económico:
Dizem que as economias mais saudáveis e estáveis são monarquias, mas esquecem-se sempre de referir os Estados Unidos, a França, a Suíça, a Áustria e a Alemanha. Também se esquecem de referir que a governação depende dos governos eleitos e dos respetivos parlamentos, pelo menos desde o fim do absolutismo. 

O argumento da independência dos partidos políticos:
Dizem que os Reis não estão sujeitos aos partidos e que por isso são mais isentos. Mas, esquecem-se de dizer que tanto como quem integra os partidos, estão sujeitos à sua famílias, à sua própria consciência e ao poder económico, para não falar que os partidos em Espanha têm tanta ou mais influência que em Portugal.
Também se esquecem de referir que sendo o rei um Ser Humano, igual a todos os outros, podendo ser um corrupto, fruto do próprio sistema monárquico, pode não estar sujeito à Lei, como todos os outros cidadãos.

O argumento da preparação do herdeiro:
Dizem que o herdeiro é preparado desde miúdo para o cargo, e que por isso está mais bem preparado para liderar que os demais (incluindo os filhos de quem dá este argumento). No entanto, esquecem-se dos inúmeros exemplos históricos que contrariam esse facto, bem como a fraca educação que a Rainha de Inglaterra teve, à base de história, línguas, literatura e música. E dos exemplos como o dos príncipes de Inglaterra, do Juan Carlos e da atual família real espanhola.
Mais uma vez, também não referem que mesmo em Monarquia, são os eleitos que governam.

O argumento da estabilidade:
Alegam que Espanha só é Espanha por causa do Rei e que a Suécia é mais estável que a Itália e Portugal. Mas esquecem-se sempre de referir a Bélgica que tem sido incapaz de aguentar um governo, e de falar da estabilidade dos Estados Unidos, da Alemanha e da Suíça.
Conforme se tem visto, na Espanha tem havido tudo menos estabilidade, onde a Catalunha tem sido o principal foco de instabilidade com a declaração unilateral de independência da República da Catalunha. Apesar da própria Catalunha estar dividida ao meio, entre separatistas e unionistas, a razão por trás do número de unionistas nada tem a ver com o Filipe de Bourbon, mas sim com factores económicos e o medo de que sozinha a Catalunha fique mais fraca - o mesmo se pode dizer da maioria dos unionistas das outras nações de Espanha.

O argumento da representação do país:
Mas em Espanha o Rei representa mais o País que o Presidente da República? Nem toda a gente se revê no Cavaco, no Eanes, ou no Sampaio, mas a crescente simpatia pela República em Espanha indicia que também lá nem toda a gente se revê no Filipe de Bourbon. E daí? O que é isso de uma figura que una o País? O Ronaldo? O Marcelo une mais Portugal do que Filipe de Bourbon une a Espanha, há quem goste, há quem não goste, mas isso faz parte da vida democrática.

O argumento dos custos de gestão da Presidência e da Casa Real:
Este argumento vem à partida com a falácia provocada pela diferença das funções de um Presidente da República e de um Rei. Apesar de se dizer que são semelhantes, não o são, os reis têm por regra uma intervenção muito menor - logo gastam menos, ou pelo menos deveriam gastar menos. 
A propaganda monárquica tenta passar a ideia que a Presidência da República Portuguesa é mais cara que a casa real britânica, o que é falso. Mesmo os custos da casa Real Espanhola, que alegadamente terá o orçamento mais barato, pecou sempre pela transparência e foi publicado, pela primeira vez, apenas em 2011. Por outro lado, tal como muitas das casas reais europeias, esconde despesas em diversos ministérios, o que torna pouco credíveis os números anunciados. 
Por exemplo, se olharmos para a os custos da coroa Belga, que tem pouco mais habitantes que Portugal, esta custa cerca do dobro do orçamento alocado à presidência da República Portuguesa. 

Conclusão:
Todos estes argumentos valem o que valem. E se pensarmos bem, servem para pouco mais que animar a discussão, porque no final do dia o que os povos precisam é de bons governos, sejam eles liderados por Reis, Presidentes, ou Ministros, independentemente da forma como são escolhidos.

E é este o cerne da questão, a forma como são escolhidos, não a forma como governam, porque isso depende das condições da economia, da personalidade, da equipa, da capacidade de cada um e de milhares de outras variáveis que não controlamos. 

Um mau governante não melhora pelo facto de ser rei, se não o rei dos frangos seria provavelmente o franchising de maior sucesso em portugal. 

Por isso, a escolha do sistema político resume-se à escolha do sistema mais justo e que permita a melhor governação. 

E como não é a monarquia ou a república que faz um bom governo, fica a discussão sobre qual o sistema mais justo e democrático.

E é aqui que a monarquia cai por terra. Não é justo e não é democrático alguém ter direito a um poder do Estado apenas por ter nascido numa determinada família. 

Por isso, há um princípio essencial que inviabiliza a monarquia, o facto de à luz da Lei e do Estado, todos os homens e mulheres serem considerados iguais, em direitos e em deveres. No fim de contas, a Monarquia perde por não ser um sistema nem justo nem democrático.






Esta coisa dos Bombeiros Voluntários andarem a pedir ajuda é no mínimo estranho. Quem é que vai para uma operação destas sem logística organizada?

Durante os incêndios de 2017 houve uma verdadeira avalanche de pedidos de apoio em barras de cereais, água e outros produtos alimentares, para ajudar os Bombeiros que se encontravam a combater os incêndios. Muitos portugueses tomaram a iniciativa e encheram os quartéis desses produtos.

O ano passado, se partirmos do princípio que foi um ano atípico e que as Associações de Bombeiros Voluntários foram apanhadas de surpresa, podemos até considerar isto uma coisa normal. Mas este ano, já me parece no mínimo um atestado de incompetência, não tenho é a certeza para quem.

Eu até vou partir do princípio que este atestado de incompetência não é para a Proteção Civil que hoje pede ajuda, até porque é suposto haver alguém responsável pela alimentação dos operacionais no terreno.